sexta-feira, 23 de outubro de 2015

ECHOES ON THE WALL

"ANA CARDOSO: PROGRESSO" - MNAC de 24/10 a 29/11/2015


Oblique-OnOff 2015
O projeto ECHOES consiste num ciclo de exposições individuais que reúne jovens artistas de origem portuguesa, a trabalhar e residir fora do seu país de origem. Artistas que apresentam, na sua maioria, um currículo construído com exposições realizadas no estrangeiro, onde têm ganho crescente reconhecimento, mas com pouco ou nenhum eco em Portugal. Ainda que a maioria destes criadores procure divulgar o seu trabalho no país natal, com a realização pontual de mostras, são de um modo geral pouco conhecidos e acabam por estabelecer maior contacto com importantes centros artísticos internacionais.

Durante cerca de um ano, o MNAC irá realizar um ciclo de mostras individuais na parede de fundo do atrium do Museu. É neste espaço de acolhimento que os visitantes são interpelados por trabalhos recentes ou inéditos de nomes da diáspora cultural portuguesa, que espelham as novas linguagens de criação artística contemporânea. O convite foi lançado a artistas lusófonos estabelecidos em países com comunidades portuguesas relevantes ou em crescente afirmação, nos cinco principais continentes de destino migratório. Valorizou-se uma visão plural com perspetivas culturais diversas e experiências artísticas distintas.

Sendo a arte uma área privilegiada para a abordagem de questões políticas, económicas, sociais, etc., estes “Ecos” propõem também a reflexão sobre questões pertinentes da atualidade: o reativar do impulso à emigração, as miscigenações sociais e respetivas hibridizações culturais, os diferentes modelos e parâmetros de integração e cidadania, a dicotomia no que toca à identidade e o surgimento de novas geografias emocionais. Esta iniciativa visa estabelecer a ponte entre as novas gerações de criadores portugueses que estão fora do contexto nacional e o MNAC  como espaço de excelência o contacto com a arte contemporânea portuguesa e local de acesso à novidade que estimula novos olhares sobre o real.

Em Progresso, 2015
(…)
Desde 1839, por altura do nascimento do daguerreótipo, que o pintor francês Paul Delaroche terá proferido a lendária frase “A partir de hoje, a pintura morreu”, com base no seu conceito de pintura como mimetização do real. Nos anos de 1960, Ad Reinhardt alegou estar a criar as últimas pinturas que alguém poderia fazer. Por fim Arthur C. Danto decidiu declarar “A Morte da Arte”, mas aquele que parecia ser um golpe derradeiro a todos os níveis, não foi mais que um ponto de rutura para a (re)interpretação da arte, uma vez que a questão centrava-se na narrativa e na definitiva alteração do seu curso, face ao paradigma que Vasari ajudou a definir para a arte no período da Renascença. Abriu-se então um novo caminho. O Turner Prize, surgido em 1984 começou por distinguir pintores. Quase dois séculos depois de Delaroche, continuamos a assistir ao aparecimento internacional de inúmeros artistas que escolhem a pintura como seu meio preferencial de expressão artística.

Progresso traduz a ideia de “avanço”. Esse movimento para diante que pressupõe em termos filosóficos a evolução da marcha no sentido do desenvolvimento, de uma mudança evolutiva, teve forte expressão no século XX, em particular devido ao modernismo que o promoveu para se destacar do que considerava ultrapassado. Ainda que nos dias de hoje, o conceito de Progresso possa transportar um cunho passadista, na sua essência contém o paradigma do que está em aberto, do que abraça o advir.

Ana Cardoso, trabalha no provir da pintura não apenas como medium, como técnica, mas como post-medium. A Ação deixa de ser apenas a do momento de pintar para passar a explorar as partes que compõem a pintura, ou melhor o processo de considerar individualmente cada elemento, a técnica, o suporte e a matéria, como partes iguais do processo.

ON OFF ON OFF-2015
O trabalho apresentado no MNAC é composto por um painel de 8 partes que se integra na parede através de uma relação cromática e de elementos de desenho.

O painel é composto por 8 telas, 4 em formato de paralelogramo com tonalidades entre o salmão e o vermelho ferro e 4 em formato de losango de outra gama de cor, que varia entre um lilás acinzentado e um cinzento malaquita. A parede retangular que recebe o painel, ao ser pintada numa cor afim às utilizadas nos elementos do painel, passa também a ser parte integrante do próprio trabalho de pintura, funcionando como suporte base que incorpora os restantes elementos geométricos. Os losangos correspondem no seu tamanho a metade dos lados maiores do paralelogramo e são dispostos em alternância, criando um jogo de linhas diagonais, podendo o último elemento estar deslocado do seu conjunto. Há o objetivo de criar com essa sequência a ilusão de uma fita que mostra a frente e o verso, ao desdobrar-se na parede, ocupando-a de forma maioritária, porque como diz Ellsworth Kelly, “O negativo é tão importante como o positivo” (“The negative is just as importante as the positive”).

As telas trabalhadas de forma modular e autónoma, afirmam num primeiro momento a monocromia, o geometrismo, a abstração que caracterizam o trabalho desta artista. Está igualmente presente outra particularidade frequente nas obras de Ana Cardoso, o interromper a lógica estabelecida com um elemento que se desloca da sequência e se autonomiza, como que a preludiar um novo trabalho. Na verdade, são necessários múltiplos para formar uma imagem, mas cada tela é uma pintura independente, podendo ser reorganizadas e re-instaladas por forma a criar um novo conjunto, uma nova peça.

Em interligação dos diferentes elementos surge o desenho com ténues linhas que evocam redes, páginas digitais, etc., só quando nos aproximamos percebemos o subtil pormenor de uma narrativa.

Nas palavras de Ana Cardoso: “para mim cada pintura é um elemento de uma proposição infinita, tornando o processo da pintura contínuo”. Uma postura pluridisciplinar que torna mais amplo o campo da pintura e a sua relação com a história, cada nova proposta inscreve-se como um contributo intermédio por forma a “instigar o progresso”.

Flat Files-2014

Curadoria : Adelaide Ginga
Texto: Adelaide Ginga
Imagens : © Direitos Reservados

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

JÚLIO POMAR E RUI CHAFES: DESENHAR

Atelier Museu Júlio Pomar até 21-02-2016





A exposição Júlio Pomar e Rui Chafes: Desenhar investe sobre uma particular ideia de ‘desenho’ ao cruzar os trabalhos de Júlio Pomar e de Rui Chafes.

Nela, mostrar-se-ão desenhos de Júlio Pomar e duas obras em ferro/instalações de Rui Chafes. Deste último artista, será produzida uma obra especificamente para esta exposição (não existindo ainda imagens da peça), e outra será mostrada pela primeira vez em Portugal. Realizadas em ferro, meio de eleição do artista, estas duas obras assumem um carácter de desenho no espaço do Atelier-Museu. Deste modo, esta exposição é pensada, desde a sua génese, como uma intervenção específica no espaço do Atelier-Museu, onde Júlio Pomar e Rui Chafes desenham recorrendo às qualidades dos traços negros, esboçados ora em linhas de carvão e grafite ora em linhas de ferro tridimensionais.

No decurso da exposição publicar-se-á um catálogo [com edição do Atelier-Museu Júlio Pomar/ Documenta] com textos de João Barrento e Maria João Mayer Branco, e imagens das obras instaladas no espaço.


JÚLIO POMAR E RUI CHAFES: DESENHAR dá início a um programa de exposições do Atelier-Museu que procurará cruzar a obra de Júlio Pomar com a de outros artistas, de modo a
estabelecer relações entre a obra do pintor e a contemporaneidade.

A acompanhar cada uma destas exposições, teremos a edição de uma entrevista aprofundada com cada um dos artistas convidados, realiza, permitindo compreender, através da voz de cada autor, as motivações e fundamentos inerentes às suas obras, sublinhando a importância da autoria na produção artística contemporânea.

Curadoria: Sara Antónia Matos

Imagens: Rui Chafes " As tuas mãos " / Júlio Pomar "Abraço(Etreinte)"
Créditos: António Jorge Silva

Bibli. Press release da exposição

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

“Interregnum” de Stan Douglas

Museu Coleção Berardo 


Stan Douglas, The Secret Agent, 2015. Cortesia do artista, da galeria David Zwirner, Nova Iorque e Londres, e da galeria Victoria Miro, Londres.


Nesta exposição é estreada a obra The Secret Agent filmada em Lisboa e que aborda a situação histórica vivida em 1975 a partir de uma adaptação da novela homónima de Joseph Conrad. A exposição integra ainda outras obras recentes de Stan Douglas, artista canadiano nascido em 1960, que reencenam aspetos políticos e culturais relacionados com o mesmo período histórico do final do colonialismo e da emergência de uma nova ordem global: Disco Angola (2012) e Luanda-Kinshasa (2013), que desenvolvem estas questões, foram realizadas no curso da investigação que o artista levou a cabo sobre a transformação da realidade portuguesa na década de 1970 e a emergência de uma nova ordem global. Neste sentido, tanto os testemunhos associados aos factos referenciados, como o historial da sua posterior reflexão historiográfica ou artística, a par do vasto material documental, sobretudo fotográfico, constituíram as principais fontes.

A exposição pode ser visitada gratuitamente até ao dia 14 de fevereiro no piso -1 do museu. Durante a exposição, o público é convidado a participar num programa de atividades e de conversas que serão atempadamente anunciadas.

Por ocasião da exposição, o Museu Coleção Berardo publica o livro História e Interregnum. Três Obras de Stan Douglas, dando à estampa um extenso ensaio de Pedro Lapa, diretor artístico do museu e curador desta exposição, que analisa a «trilogia» de obras de Stan Douglas. Para além da versão portuguesa, o livro existe ainda em inglês, numa parceria entre o museu e a Archive Books de Berlim, que assegura a distribuição internacional.

Apoio à exposição: Stan Douglas studio, galeria David Zwirner e galeria Victoria Miro.

Bibli. Press release da exposição

terça-feira, 20 de outubro de 2015

HELENA ALMEIDA : A MINHA OBRA É O MEU CORPO, O MEU CORPO É A MINHA OBRA

Museu de Serralves até a 10 janeiro de 2016


Imagem: Helena Almeida, Saída negra [Black Exit], 1995 (pormenor). 5 Fotografias p/b. 71 x 48 cm (cada). Col. Norlinda e José Lima, em depósito no Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory. Fotografia: Aníbal Lemos, cortesia Núcleo de Arte da Oliva Creative Factory
Esta exposição dedicada à obra da conceituada artista portuguesa Helena Almeida (Lisboa, 1934), examina o seu trabalho de pintura, fotografia, vídeo e desenho ao longo de quase cinco décadas. A exposição salientará a importância do corpo – que regista, ocupa e define o espaço – e o seu encontro performativo com o mundo nas obras realizadas pela artista de meados dos anos 1960 até à atualidade. Além das pinturas "habitadas” e das series fotográficas pelas quais é mais conhecida, serão mostradas na exposição obras raramente exibidas ao longo da sua carreira artística. Por meio da sua pintura abstrata inicial, Helena Almeida introduz as preocupações centrais que definem a sua prática artística numa diversidade de disciplinas, nomeadamente o interesse em ultrapassar os limites do espaço pictórico e narrativo que sempre desempenhou um papel fundamental na obra da artista. Como Helena Almeida afirma: "A minha pintura é o meu corpo, a minha obra é o meu corpo”. 

Por ocasião da exposição será publicado um catálogo (com edições em português, inglês e francês. O processo de trabalho da artista e o lugar da sua obra no contexto da arte portuguesa e das práticas artísticas feministas e performativas dos anos 1970 e das décadas subsequentes serão explorados nos ensaios inéditos de Peggy Phelan (Professora de Teatro e Performance e Inglês da Universidade Stanford), Connie Buttler (Curadora Chefe do Hammer Museum da Universidade de Los Angeles) e de Bernardo Pinto de Almeida (historiador e crítico de arte, Professor Catedrático na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto) e numa entrevista com a artista conduzida pelos curadores da exposição, João Ribas e Marta Moreira de Almeida.

"Helena Almeida” é comissariada por João Ribas, Diretor Adjunto e Curador Sénior, e Marta Moreira de Almeida, curadora do Museu de Arte Contemporânea de Serralves. 

A exposição viajará até ao Jeu de Paume em Paris (primavera de 2016) e o Wiels, Centre d’art contemporain, em Bruxelas (outono de 2016). 


Bibli. Press release da exposição


segunda-feira, 19 de outubro de 2015

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Palácio Vila Flor e Centro Internacional das Artes José de Guimarães

novas exposições a partir de 17 de outubro


PAULO MENDES ,  S DE SAUDADE

17 de outubro é dia de mais uma inauguração conjunta em Guimarães. O programa terá início às 16h30, no Palácio Vila Flor, onde Paulo Mendes apresentará uma antologia das obras da série “S de Saudade” iniciada em 2007. O trabalho de Paulo Mendes especula sobre o desassossego de uma presença post-mortem. No propósito de questionamento crítico sobre os efeitos traumáticos de um regime, o artista junta diferentes elementos visuais, numa disposição visionária e parcelar, reativando o que historicamente sucumbiu à vulgaridade e indiferença.
 
O “Senhor S”, protagonista da exposição, surge como reabilitação iconoclasta do Homem sem Qualidades, de Robert Musil. A falta de legitimidade humanista que traça o percurso histórico do ditador faz soçobrar a sua imagem no abismo enigmático; sombra esfíngica e patológica, reflexo especular, aparência sintomática, interpela o observador que, pelo reconhecimento do outro se reconhece neste diálogo interior. A silhueta esquiva, difusa e sinuosa do “Senhor S” erra no amontoado de artefactos, preservados no sótão das memórias recalcadas; silenciosa, quase inerte, contempla, de forma panótica, os medos, angústias, incertezas, debilidades e inseguranças, desdenhando o perigo, ambivalência ou relatividade de opiniões, argumentos e ideologias.
 
A exposição sugere um espaço fechado, durante décadas selado, no qual o “Senhor S” emerge como repositório de atos cruéis. Misturados com as peças, os objetos de uso comum, abandonados, esquecidos e dispostos ao acaso, evocam a paisagem cultural da personagem fantasmática; constituindo um peculiar sistema de sinais, que põe a nu o jogo semântico entre objetos e elementos visuais, aos quais um código intuitivo extralinguístico atribui uma espécie de “iluminação” historicista e ficcional. Assim, a cada significado correspondem múltiplas hipóteses de iluminação, pelas evocações, alusões, simulações imaginosas na cor ou fragrância de um pensamento.

INQUÉRITOS, Pastores com carroça, capucha e cão lobeiro, Cinfães, Gralheira, 1955 ©Ordem dos Arquitectos


Às 19h00, é a vez do Centro Internacional das Artes José de Guimarães inaugurar a segunda grande exposição coletiva do ano, “Os Inquéritos [à Fotografia e ao Território]: Paisagem e Povoamento”, projeto que aborda e tematiza o papel da fotografia no mapeamento, documentação e construção pela imagem do território português.
 
Tendo como ponto de partida a expedição à Serra da Estrela, realizada sob a égide da Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1881, que contou com a colaboração de Martins Sarmento, e o trabalho pioneiro e menos conhecido de Carlos Relvas sobre uma considerável porção do território português, a exposição reúne um conjunto de inquéritos ao território em que a fotografia (e em alguns casos o filme) assume particular relevância – desde o levantamento contínuo de Orlando Ribeiro, iniciado ainda na década de 1930, passando pelo “Inquérito à Arquitectura Regional”, realizado na primeira metade de 1950 e pelas recolhas do grupo de etnólogos formados e liderados por Jorge Dias no âmbito do Centro de Estudos de Etnologia, sistematizadas a partir da década de 1950 até ao princípio de 1980, revisitando as peças em que Alberto Carneiro recorre sistematicamente à fotografia, entre 1973 e o princípio dos anos 1980, até aos levantamentos mais recentes, de Duarte Belo (Horizonte Portugal, O Sabor da Terra, Portugal, Luz e Sombra, etc.), Luís Pavão (Serras do Caldeirão e de Monchique) ou Álvaro Domingues (A rua da estrada, A vida no campo), André Príncipe (Campo de flamingos sem flamingos) ou Daniel Blaufuks (Um pouco mais pequeno que o Indiana), Nuno Cera e Diogo Seixas Lopes (Cimêncio), Paulo Catrica, Valter Vinagre, Jorge Graça, Álvaro Teixeira, Pedro Tropa, Carlos Lobo e Eduardo Brito, ou ainda, Duas Linhas e Sete Círculos. 
 
Pondo lado a lado um amplo conjunto de imagens, documentos e publicações, alguns deles não antes vistos em contexto museológico, esta exposição oferece-nos uma miríade de retratos do território português, tão diversos quanto fascinantes, que nos induzem a uma reflexão sobre nós mesmos e o lugar em que nos foi dado viver. 
 
Para além da exposição “Os Inquéritos [à Fotografia e ao Território]: Paisagem e Povoamento”, que ocupará a totalidade das salas reservadas às exposições temporárias, recordamos que poderá também (re)visitar a coleção permanente e outras obras patente no piso 1 do CIAJG. Esta exposição sofreu uma remontagem no mês de julho com a apresentação da obra de Pedro Valdez Cardoso, “Ártico: narrativa e fantasmática”, que reúne uma instalação e um alargado conjunto de desenhos que estabelecem um diálogo com a prática arqueológica. Estas novas propostas juntaram-se aos ex-libris da coleção que continuam em exposição, nomeadamente o tão apreciado e visitado núcleo As Magias, que reúne um alargado conjunto de máscaras africanas.

Bibli. Press release da exposição



quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Encarnação – exposição de José Rufino

Curadoria – Maria de Fátima Lambert





Palácio das Artes 
 Largo São Domingos 19, 4050-265 Porto

29 setembro a 28 outubro 2015

Horário: 3ªf a 6ªf das 10h às 18h | Sábado das 14h às 18h



No âmbito das Comemorações dos 30 anos do Politécnico do Porto, algumas atividades desenvolvidas no contexto de projetos de investigação inED (Centro de Investigação e Intervenção em Educação da Escola Superior de Educação) foram incorporadas à programação do eixo cultural.
A residência artística de José Rufino tomou, desde as primeiras conversas, rumos latinos de “Encarnação”. Sob auspícios complexos e ricos, implícitos em definições criteriosas, quer em termos semânticos, quer iconográficos, Encarnatio converteu-se em Encarnação. Convoca a disciplina de diferentes axiologias, não somente a artística e estética, também a filosófica, histórica, antropológica…entre outras cumplicidades científicas. A exposição ocupa todas as salas do Palácio das Artes, em tempos idos, Convento de São Domingos (construído no séc. XIII), tendo sofrido vicissitudes e acolhido, posteriormente e até 1934, o Banco de Portugal na cidade. A carga arquitetónica propicia devaneios que acolhem impulsos de restituição a materiais tidos como obsoletos ou descartáveis, regimentando imagens e peças que o artista interfere e transfigura mediante ação de desenho, pintura, solicitando tridimensionalidades pensadas para este lugar que é todos os lugares “en-carnados”...in situ. As peças desenham-se e alastram, observando uma espécie de peregrinação pelos espaços adentro. Surpreendentes, as obras concebidas até ao ínfimo detalhe, evocam caminhos de identidade própria e de alteridade, denotando e demonstrativas dos itinerários decididos pelo artista brasileiro em Portugal e na Galiza. As viagens são parte integrante do processo criativo desenvolvido nesta oportunidade, instituindo-se como substância fundante e direcionadora das intervenções aplicadas. Os atos de percorrer, as caminhadas em estado de deriva orientada, atingiram cidades que lhe eram estranhas, conjugando-se em perplexidade e festa. A missão estética empreendida e adjacente à peregrinatio conduziu José Rufino numa celebração altruísta, autognósica e societária, na senda de José de Arimatéia ou de Francisco de Assis, destino a Santiago (mítico e efetivo) e retorno ao Porto antes de regresso à Paraíba.
Para cumprir o processo criativo, o artista estabeleceu contatos com artistas, investigadores, professores e estudantes, cumprindo o dinamismo poiético e ativando mais e mais pensamento crítico multidisciplinar - exigência e rigor extremos. O artista trabalha memórias, memórias ideológicas e históricas desenhando, pintando, projetando instalações onde os objetos e as esculturas dialogam em prol dessa convergência heterodoxa de motivações e ideias substantivas. 



Desde os anos 1980 que José Rufino apresenta as suas obras, tendo realizado cerca de 200 exposições. No projeto agora desenvolvido em Portugal, o artista confronta-se com matérias e reminiscências daquilo que, à distância, eram ainda e somente “lampejos imaginados de suas memórias profundas”. Estes exigiram ser criados para um desocultamento das raízes históricas de Portugal, enquanto país que estimulou e ramificou em fantasias, mitemas, derivações literárias, plásticas denotativas de forte simbolismo. Assim, também para além da analogia à Encarnação - em que o Verbo tomou carne para ser identificar enquanto indivíduo pessoal e humano, haverá que agregar outras aceções, como esse dom da pele que é consciência transfiguradora do eu, sobre a aparência preenchida pelo magma visceral. Aqui, perante a criação de José Rufino, estreitam-se os laços entre as vertentes que retrocedem até às estéticas medievais, expandindo-se na maior atualidade refletida e comprometida com a sociedade.

Maria de Fátima Lambert



José Rufino vive e trabalha em João Pessoa, Paraíba. Artista e escritor, é também professor de Arte nas universidades Federais da Paraíba e Pernambuco. Saiba mais em  http://www.joserufino.com/site/biografia/


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Paulo Nozolino - Make do

Make do , Paulo Nozolino

Make do é o título da exposição que Paulo Nozolino inaugura na Galeria Quadrado Azul, em Lisboa, no dia 1 de Outubro pelas 22H.

Não há acasos no trabalho de Paulo Nozolino. Nem mesmo num trabalho onde o sujeito do seu olhar é única e exclusivamente a mulher. Corpo de imagens consistente, “Make do evolui de 1974 a 2013 e traduz uma trajetória crescente na dramatização de momentos e encontros, acompanhando a maturidade do artista e a definição do seu posicionamento no universo da fotografia.


Abrindo caminho para critérios ideológicos fortes, desvendam-se aqui marcas visuais precisas a delinear convicções pessoais e políticas. Nada é ficção.  Enigmáticas, crípticas, sensuais, agressivas, belas, todas as fotografias agora reunidas gritam vida e eternidade num discurso banhado por uma perturbadora e inquietante serenidade.    


A exposição estará patente até 24 de Dezembro.

Bibli. Press release da exposição






sexta-feira, 13 de março de 2015

" Caminhos ... " de António Carmo

Partida e Chegada 2013 100x100

na Biblioteca de Gaia até 30 de março


Aquele Anjo 2012 100x100





Encontro e Azulejos 2013 100x100.


segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

ÂNGELA FERREIRA | AYRSON HERÁCLITO | EDSON CHAGAS

NOVO BANCO e Museu Coleção Berardo anunciam os artistas selecionados para o NOVO BANCO Photo 2015
Independance ChaCha 2014. LumiarCite¦ü_Angela Ferreira-2200


NOVO BANCO e o Museu Coleção Berardo anunciam os três artistas selecionados para a edição de 2015 do Prémio NOVO BANCO Photo, o mais importante prémio de arte contemporânea realizado em Portugal - Ângela Ferreira (Lisboa), Ayrson Heráclito (Salvador da Baía) e Edson Chagas (Luanda).

O NOVO BANCO mantém, desta forma, a sua aposta de mecenato cultural na área da fotografia, dando continuidade ao formato e ao valor pecuniário do prémio, bem como os pressupostos de internacionalização por via da seleção dos artistas, que podem ser de nacionalidade portuguesa, brasileira ou dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.

O critério de seleção dos artistas requer que estes tenham efetuado uma exposição de obras em suporte fotográfico e/ou a edição de uma publicação durante 2014.

A escolha destes artistas foi da responsabilidade de um júri de seleção representativo do triângulo geográfico referido, composto por Luís Silva (Lisboa), fundador e diretor da Kunsthalle Lissabon; Adriano Pedrosa (São Paulo), diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo; e Bisi Silva (Lagos), fundadora e diretora do Centre for Contemporary Art, em Lagos, que analisaram o panorama expositivo da fotografia no período a que reporta o prémio (2014).

Independance ChaCha , 2014. LumiarCite¦ü_Angela Ferreira
Ângela Ferreira foi nomeada pelo júri «pela sua exposição individual Indépendance Cha Cha, apresentada em 2014 na galeria Lumiar Cité em Lisboa. Esta exposição surge como uma continuação do projeto que a artista desenvolveu para a Bienal de Lubumbashi, justapondo uma forma escultórica reminiscente da arquitetura colonial do centro de Lubumbashi e dois vídeos. Um dos vídeos documenta uma performance, apresentada na bienal, que lida com narrativas de trabalho forçado nas minas daquela zona; o outro mostra a interpretação de Indépendance Cha Cha, um hino emblemático dos movimentos independentistas da África francófona na década de 1960.»

Na opinião do júri, Edson Chagas, no seu trabalho, «usa o contexto urbano de cidades como Luanda, Londres ou Newport como cenário para criar um “arquivo” de objetos banais. O seu interesse centra-se em captar a forma como os objetos abandonados, dispersos pela cidade, oferecem um olhar sobre os hábitos de consumo de um determinado local. Ao fotografar estes objetos, por vezes movendo-os para criar a sua própria composição, o artista cria uma relação entre o objeto e o contexto, entre uma ideia e a realidade. Edson Chagas foi nomeado para o NOVO BANCO Photo 2015 pela exposição Luanda, Encyclopedic City, em representação de Angola na 55.ª Bienal de Veneza (2013), onde conquistou o Leão de Ouro pela melhor participação nacional, bem como pela sua exposição individual na galeria Belfast Exposed Photography (2014), onde apresentou a série em curso Found Not Taken

Found Not Taken, Londres, 2008 ©Edson Chagas

Para o júri, Ayrson Heráclito na sua obra «investiga as ricas relações entre África e o Brasil, explorando as ligações políticas, sociais e culturais entre estes dois territórios, demonstrando um interesse especial na história da escravatura e nas religiões afro-brasileiras, de uma perspetiva privilegiada: Salvador, Bahia, a capital do Brasil africano, onde vive e trabalha. O vídeo e a fotografia são os principais suportes utilizados pelo artista, que também recorre a instalações e outros media. No ano passado, Ayrson Heráclito participou em várias exposições, onde apresentou trabalhos como Segredos Internos (1999-2009) em Do Valongo à Favela (Museu de Arte do Rio, Rio de Janeiro), Múltiplo II em Histórias Mestiças (Instituto Tomie Ohtake, São Paulo) e o vídeo Barrueco (2004) em Memórias Inapagáveis (VideoBrasil, SESC Pompeia, São Paulo).»

Bori- Oxum_Ayrson Heraclito
Os artistas selecionados apresentarão os seus trabalhos no Museu Coleção Berardo, numa exposição composta por obras inéditas, com inauguração agendada para o dia 17 de junho, sendo o vencedor conhecido durante o mês de setembro, em data a anunciar.

Pedro Lapa, presidente do júri do prémio NOVO BANCO Photo e diretor artístico do Museu Coleção Berardo, salienta que «No curso das últimas edições do prémio foi possível constituir uma rede própria de conhecimento, circulação e premiação de artistas lusófonos. Todos os países envolvidos tiveram contacto com as práticas artísticas no domínio fotográfico dos seus parceiros, que muitas vezes desconheciam. O prémio tem sido, por isso, um relevante contributo para o aprofundamento desta rede lusófona, que importa salvaguardar num mundo cada vez mais globalizado, onde novas articulações se definem. A continuidade e perseverança destes processos é chave para a sua concretização efetiva. A renovada aposta por parte do Novo Banco é um motivo de louvor e grande satisfação para o Museu Coleção Berardo e para todos os que acreditam na sua pertinência.»

Bibli. Press release

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Palmeiras Bravas/The Current Situation de Pedro Barateiro

Inaugura dia 11 de fevereiro, quarta-feira, às 19h00 - Museu Coleção Berardo



The Current Situation (Prologue), 2015. Video still. Cortesia do artista e da  Galeria Filomena Soares.


O Museu Coleção Berardo apresenta a exposição Palmeiras Bravas/The Current Situation de Pedro Barateiro (n. 1979) constituída por trabalhos concebidos especificamente para o efeito. Estes produzem uma observação inquietante do presente estado do mundo onde vivemos.
A estranheza de cada imagem, objeto, filme ou escultura implica um conhecimento associado a uma prática e a uma política com os quais se entrelaçam as comunidades e os atores, que somos nós, num determinado confinamento histórico. Por isso estes trabalhos ocupam uma posição de fronteira, são um local de conflito onde a naturalização das tensões e a mitificação das fantasmagorias se revertem uma na outra para revelar as diferenças que os articulam e se jogam nas diversas narrativas que organizam a exposição.


Pedro Lapa
Diretor artístico e curador da exposição



Um programa reunindo os filmes We Belong to Other People When We're Outside e Feitiço/Spell, realizados por Pedro Barateiro, será apresentado no auditório do museu no dia 14 de fevereiro e repetirá a 14 de março, 18 de abril e 16 de maio, sempre às 16h00.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

lançamento de livro Memorator de Paulo Catrica

Fotografias atuais do TNDM II em diálogo com os registos do incêndio de 1964 , dia 31 janeiro às 17 horas
João Pedro Amaral -fotografia

“O incêndio que destruiu o interior do Teatro Nacional D. Maria II na madrugada de 2 de dezembro de 1964 instiga e coabita o argumento. A reconstrução durou catorze anos, e o ‘novo’ teatro inaugurado em maio de 1978, pelo poder político que emergiu com a Revolução de Abril, é o derradeiro exemplo do ‘historicismo’ arquitectónico que orientou muitas das obras do Estado Novo.

Partindo do presente, de fotografias do teatro realizadas em 2014 e resgatando fotografias históricas a diversos arquivos, em particular ao espólio do fotógrafo José Marques, recentemente adquirido pelo TNDM II, este atlas fotográfico projeta um edifício do ‘novo’ e do ‘outro’ teatro. No entanto, recusa a perspetiva do inventário ou a construção de um resumo, não segue uma cronologia nem mesmo regras de serialização documental. Não pretende nem ilustrar, nem reconstruir o edifício do teatro, o que existe hoje ou o que desapareceu consumido pelo fogo em dezembro de 1964. As fotografias enquanto citações, revelam e confrontam micro‐histórias, de assuntos, factos ou acontecimentos criando uma narrativa historiográfica que interseta e confronta a matriz documental e a hipótese alegórica das fotografias.”

Paulo Catrica





O lançamento do livro Memorator, de Paulo Catrica,  terá lugar no  dia  31 de janeiro, às 17h, no Salão Nobre do TNDM II. A sessão será apresentada pela investigadora em História da Fotografia, Emília Tavares, e contará com a presença do autor e de atores do elenco do espectáculo Macbeth, em cena à data do trágico incêndio  do Teatro. 


Uma edição TNDM II / Bicho do Mato (Coleção “Estudos”), no âmbito do projeto Memória (1964)

Bibli. Press release do evento


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

C.M.L. apresenta ao público o MUSEU DE LISBOA


Museu da Cidade - Palácio Pimenta

Palácio Pimenta + Museu de Santo António + Teatro Romano + Casa dos Bicos + Torreão Poente (do Terreiro do Paço) = MUSEU DE LISBOA. São cinco os núcleos do MUSEU DE LISBOA, disseminados pela cidade e que no sábado, 31 de Janeiro, é apresentado ao público.
A cerimónia decorre no Palácio Pimenta, precisamente um dos cinco polos do MUSEU DE LISBOA,  às 17h.

Resultado da reformulação programática do Museu da Cidade, que a Câmara Municipal de Lisboa tem vindo a proceder, através do Pelouro da Cultura, o MUSEU DE LISBOA tem também a partir de agora a sua marca própria que será divulgada na mesma ocasião.

MUSEU DE LISBOA no seu todo e com as suas partes (os seus 5 núcleos) pretende vir a ser um museu de cidade contemporâneo e uma referência na vida dos lisboetas e de quem nos visita. Mais do que espelho da história da Cidade de Lisboa, o MUSEU DE LISBOA já é, e será mais ainda, um conjunto de espaços museológicos onde se aprende Lisboa, onde se debate Lisboa e as suas vivências e onde se perspetiva o seu futuro.

Assim, neste mesmo sábado 31 é inaugurada no núcleo MUSEU DE LISBOA/ Palácio Pimenta a exposição temporária Varinas de Lisboa – Memórias da Cidade que ali ficará patente até 24 Maio 2015. Das comunidades regionais que na capital assentaram nenhuma foi tão marcante como a varina. Proveniente do litoral do distrito de Aveiro, de Ovar lhe advém o nome.


Bibli. Press release 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ciclo 'As escolhas dos críticos' - Museu Colecção Berardo






A sexta visita do ciclo As escolhas dos críticos é orientada por Delfim Sardo, professor, curador e crítico de arte, e decorrerá no sábado, dia 31 de janeiro, às 16h00. Esta visita é dedicada à obra Boîte (Série C) de Marcel Duchamp. A participação é gratuita, mas é necessária inscrição prévia.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

'TRAÇO CONTÍNUO' - DOMINGOS REGO E CECÍLIA COSTA

 Galeria João Esteves de Oliveira - inauguração dia 29 de janeiro às 19 horas


Traço Contínuo
Desenhos de Domingos Rego e Cecília Costa em diálogo

Domingos Rego

Dando sequência aos trabalhos anteriormente apresentados na Galeria João Esteves de Oliveira, exponho um conjunto de trabalhos recentes que aprofundam e expandem temáticas reveladas anteriormente. São desenhos que suscitam uma reflexão sobre as relações físicas com o espaço construído e com a natureza. O espaço é aqui apresentado como pretexto de relação háptica e holística com o real, como se as casas de Richard Neutra, que estão presentes num dos painéis da exposição, reivindicassem o tacto e a memória para serem percebidas, e os planos de cor que cortam as composições funcionassem como cortinas que se abrem ou se fecham para uma realidade em que a natureza envolve, cruza e faz parte do edificado.
A matéria joga um papel importante na sugestão táctil destes desenhos, adensando-se ou diluindo-se, aplicada com espátulas, ou soprada à maneira das “figuras de sopro” surrealistas, aceitando o acaso e perseguindo seus “acidentes favoráveis”, como Jean Dubuffet gostava de os designar.
As composições abstractas que evocam escadas e elementos arquitectónicos lembramos a importância de um deambular atento que envolva todos os sentidos. As escadas não são só a possibilidade de elevação ou descida, são a prova da necessidade de atenção, estruturas arquitectónicas que pontuam a história da arte: das escadas labirínticas de Piranesi, às estruturas impossíveis de Escher, das escadas livres de Beuys e Louise Bourgeois, ao Nu descendo as escadas, de Duchamp. E, num plano mais simbólico, a escada de Dürer, na Melancolia I, ou, na arte do nosso tempo, as escadas nas obras de Anselm Kiefer.  E se as escadas evocam essa possibilidade de deslocação entre planos, e uma certa ideia de duração (Bergson), a janela é a estrutura arquetípica da contemplação, a metáfora tantas vezes reinventada do desenhos e da pintura. 
A natureza adquire uma particular relevância nos desenhos de flores e de frutos, que surgem, muitas vezes, em espaços obscurecidos, fundos negros que sugerem o acto de desenhar no escuro, para, mais uma vez, suscitarem a noção de atenção associada ao desenho.
Traço contínuo representa, pois, o rastro que fica dessa relação especial que estabelecemos com o real através do desenho. Derrida assinalou de forma exemplar, em Memórias de Cego, essa particular forma de nos relacionarmos com o mundo, “uma espécie de sinergia que coordena as possibilidades de ver, de tocar, de mover. E de ouvir e entender porque são já palavras de cego que eu assim desenho.” i

Cecília Costa

Desde o início, a obra de Cecília Costa tem lidado com os acertos e os enganos do olhar, com as diferenças e pormenores escondidos que exigem ponderação, com os jogos subtis que demandam a participação do espectador. Esses aspectos são reconhecíveis nas fotografias e nas instalações que põem em jogo dispositivos sonoros, visuais e escultóricos.
Formuladas de um outro modo, as questões que referimos colocam-se nos desenhos. Também nesta área, uma reflexão sobre o ver nos é proposta. As linhas adquirem um corpo, surgem como que segregadas pelas representações, estabelecendo itinerários improváveis entre os olhos e as mãos, ganhando a consistência que transforma o olhar em ver, extravasando os limites da composição e depositando-se fora de campo.
A linha adquire várias qualidades: de fio de Ariadne que nos permite regressar a território conhecido, à linha do tecido de Penélope, cuidadosamente urdido durante o dia e desfeito durante a noite, prolongando até ao absurdo um desfecho que não se deseja. A linha é a manifestação plástica essencial do desenho, a fronteira que circunscreve e delimita, o traço que liga o pensamento, a visão e a expressão.
Nos trabalhos em presença, as linhas desenham-se no espaço provocando tensões, lidando com o vazio da página e tornando-o entidade tangível, lugar de encenação dos limites e potencialidades do próprio corpo. A luz branca da página, de tão intensa, devora partes das cenas, mas, e apesar de tudo, as linhas resistem e, por vezes, geram volumes por acumulação, materializando de forma exemplar a ligação que acontece entre o visto, o representado, e o gesto que lhe dá forma.

Azeitão, 11 de Janeiro de 2015
Domingos Rego