quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

lançamento de livro Memorator de Paulo Catrica

Fotografias atuais do TNDM II em diálogo com os registos do incêndio de 1964 , dia 31 janeiro às 17 horas
João Pedro Amaral -fotografia

“O incêndio que destruiu o interior do Teatro Nacional D. Maria II na madrugada de 2 de dezembro de 1964 instiga e coabita o argumento. A reconstrução durou catorze anos, e o ‘novo’ teatro inaugurado em maio de 1978, pelo poder político que emergiu com a Revolução de Abril, é o derradeiro exemplo do ‘historicismo’ arquitectónico que orientou muitas das obras do Estado Novo.

Partindo do presente, de fotografias do teatro realizadas em 2014 e resgatando fotografias históricas a diversos arquivos, em particular ao espólio do fotógrafo José Marques, recentemente adquirido pelo TNDM II, este atlas fotográfico projeta um edifício do ‘novo’ e do ‘outro’ teatro. No entanto, recusa a perspetiva do inventário ou a construção de um resumo, não segue uma cronologia nem mesmo regras de serialização documental. Não pretende nem ilustrar, nem reconstruir o edifício do teatro, o que existe hoje ou o que desapareceu consumido pelo fogo em dezembro de 1964. As fotografias enquanto citações, revelam e confrontam micro‐histórias, de assuntos, factos ou acontecimentos criando uma narrativa historiográfica que interseta e confronta a matriz documental e a hipótese alegórica das fotografias.”

Paulo Catrica





O lançamento do livro Memorator, de Paulo Catrica,  terá lugar no  dia  31 de janeiro, às 17h, no Salão Nobre do TNDM II. A sessão será apresentada pela investigadora em História da Fotografia, Emília Tavares, e contará com a presença do autor e de atores do elenco do espectáculo Macbeth, em cena à data do trágico incêndio  do Teatro. 


Uma edição TNDM II / Bicho do Mato (Coleção “Estudos”), no âmbito do projeto Memória (1964)

Bibli. Press release do evento


terça-feira, 27 de janeiro de 2015

C.M.L. apresenta ao público o MUSEU DE LISBOA


Museu da Cidade - Palácio Pimenta

Palácio Pimenta + Museu de Santo António + Teatro Romano + Casa dos Bicos + Torreão Poente (do Terreiro do Paço) = MUSEU DE LISBOA. São cinco os núcleos do MUSEU DE LISBOA, disseminados pela cidade e que no sábado, 31 de Janeiro, é apresentado ao público.
A cerimónia decorre no Palácio Pimenta, precisamente um dos cinco polos do MUSEU DE LISBOA,  às 17h.

Resultado da reformulação programática do Museu da Cidade, que a Câmara Municipal de Lisboa tem vindo a proceder, através do Pelouro da Cultura, o MUSEU DE LISBOA tem também a partir de agora a sua marca própria que será divulgada na mesma ocasião.

MUSEU DE LISBOA no seu todo e com as suas partes (os seus 5 núcleos) pretende vir a ser um museu de cidade contemporâneo e uma referência na vida dos lisboetas e de quem nos visita. Mais do que espelho da história da Cidade de Lisboa, o MUSEU DE LISBOA já é, e será mais ainda, um conjunto de espaços museológicos onde se aprende Lisboa, onde se debate Lisboa e as suas vivências e onde se perspetiva o seu futuro.

Assim, neste mesmo sábado 31 é inaugurada no núcleo MUSEU DE LISBOA/ Palácio Pimenta a exposição temporária Varinas de Lisboa – Memórias da Cidade que ali ficará patente até 24 Maio 2015. Das comunidades regionais que na capital assentaram nenhuma foi tão marcante como a varina. Proveniente do litoral do distrito de Aveiro, de Ovar lhe advém o nome.


Bibli. Press release 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Ciclo 'As escolhas dos críticos' - Museu Colecção Berardo






A sexta visita do ciclo As escolhas dos críticos é orientada por Delfim Sardo, professor, curador e crítico de arte, e decorrerá no sábado, dia 31 de janeiro, às 16h00. Esta visita é dedicada à obra Boîte (Série C) de Marcel Duchamp. A participação é gratuita, mas é necessária inscrição prévia.



sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

'TRAÇO CONTÍNUO' - DOMINGOS REGO E CECÍLIA COSTA

 Galeria João Esteves de Oliveira - inauguração dia 29 de janeiro às 19 horas


Traço Contínuo
Desenhos de Domingos Rego e Cecília Costa em diálogo

Domingos Rego

Dando sequência aos trabalhos anteriormente apresentados na Galeria João Esteves de Oliveira, exponho um conjunto de trabalhos recentes que aprofundam e expandem temáticas reveladas anteriormente. São desenhos que suscitam uma reflexão sobre as relações físicas com o espaço construído e com a natureza. O espaço é aqui apresentado como pretexto de relação háptica e holística com o real, como se as casas de Richard Neutra, que estão presentes num dos painéis da exposição, reivindicassem o tacto e a memória para serem percebidas, e os planos de cor que cortam as composições funcionassem como cortinas que se abrem ou se fecham para uma realidade em que a natureza envolve, cruza e faz parte do edificado.
A matéria joga um papel importante na sugestão táctil destes desenhos, adensando-se ou diluindo-se, aplicada com espátulas, ou soprada à maneira das “figuras de sopro” surrealistas, aceitando o acaso e perseguindo seus “acidentes favoráveis”, como Jean Dubuffet gostava de os designar.
As composições abstractas que evocam escadas e elementos arquitectónicos lembramos a importância de um deambular atento que envolva todos os sentidos. As escadas não são só a possibilidade de elevação ou descida, são a prova da necessidade de atenção, estruturas arquitectónicas que pontuam a história da arte: das escadas labirínticas de Piranesi, às estruturas impossíveis de Escher, das escadas livres de Beuys e Louise Bourgeois, ao Nu descendo as escadas, de Duchamp. E, num plano mais simbólico, a escada de Dürer, na Melancolia I, ou, na arte do nosso tempo, as escadas nas obras de Anselm Kiefer.  E se as escadas evocam essa possibilidade de deslocação entre planos, e uma certa ideia de duração (Bergson), a janela é a estrutura arquetípica da contemplação, a metáfora tantas vezes reinventada do desenhos e da pintura. 
A natureza adquire uma particular relevância nos desenhos de flores e de frutos, que surgem, muitas vezes, em espaços obscurecidos, fundos negros que sugerem o acto de desenhar no escuro, para, mais uma vez, suscitarem a noção de atenção associada ao desenho.
Traço contínuo representa, pois, o rastro que fica dessa relação especial que estabelecemos com o real através do desenho. Derrida assinalou de forma exemplar, em Memórias de Cego, essa particular forma de nos relacionarmos com o mundo, “uma espécie de sinergia que coordena as possibilidades de ver, de tocar, de mover. E de ouvir e entender porque são já palavras de cego que eu assim desenho.” i

Cecília Costa

Desde o início, a obra de Cecília Costa tem lidado com os acertos e os enganos do olhar, com as diferenças e pormenores escondidos que exigem ponderação, com os jogos subtis que demandam a participação do espectador. Esses aspectos são reconhecíveis nas fotografias e nas instalações que põem em jogo dispositivos sonoros, visuais e escultóricos.
Formuladas de um outro modo, as questões que referimos colocam-se nos desenhos. Também nesta área, uma reflexão sobre o ver nos é proposta. As linhas adquirem um corpo, surgem como que segregadas pelas representações, estabelecendo itinerários improváveis entre os olhos e as mãos, ganhando a consistência que transforma o olhar em ver, extravasando os limites da composição e depositando-se fora de campo.
A linha adquire várias qualidades: de fio de Ariadne que nos permite regressar a território conhecido, à linha do tecido de Penélope, cuidadosamente urdido durante o dia e desfeito durante a noite, prolongando até ao absurdo um desfecho que não se deseja. A linha é a manifestação plástica essencial do desenho, a fronteira que circunscreve e delimita, o traço que liga o pensamento, a visão e a expressão.
Nos trabalhos em presença, as linhas desenham-se no espaço provocando tensões, lidando com o vazio da página e tornando-o entidade tangível, lugar de encenação dos limites e potencialidades do próprio corpo. A luz branca da página, de tão intensa, devora partes das cenas, mas, e apesar de tudo, as linhas resistem e, por vezes, geram volumes por acumulação, materializando de forma exemplar a ligação que acontece entre o visto, o representado, e o gesto que lhe dá forma.

Azeitão, 11 de Janeiro de 2015
Domingos Rego

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

O TEMPO E O MODO, PARA UM RETRATO DA POBREZA EM PORTUGAL

Pavilhão 31

De 16 Janeiro a 27 de Janeiro 2015

http://planogeometrico.com/OTEMPOEOMODO/

NELSON D AIRES serie EROSAO
O TEMPO E O MODO é uma proposta de investigação e de criação, através de documentação escrita, impressa, fotográfica e de uma série de novos trabalhos artísticos, sobre a Pobreza em Portugal, sendo o resultado de toda esta pesquisa documental e visual apresentada numa exposição e registada num livro.

projeto de  PAULO MENDES e EMÍLIA TAVARES   

contribuições de AUGUSTO BRÁZIO, NELSON D’AIRES, PAULO PIMENTA, PEDRO VENTURA e VALTER VINAGRE

investigação de FREDERICO AGÓAS, JOSÉ NEVES e RITA SÁ MARQUES

seminário : POLÍTICA, AUSTERIDADE E EMANCIPAÇÃO: A METRÓPOLE EM TEMPOS
DE CRISE

organizado por UNIPOP

com a presença de ANTONIO NEGRI, ANTÓNIO B. GUTERRES, EDUARDO ASCENSÃO, INÊS GALVÃO, JUDITH REVEL, NUNO RODRIGUES, NUNO SERRA e
OTÁVIO RAPOSO

JOAO TABARRA_video


O TEMPO E O MODO,
PARA UM RETRATO DA POBREZA EM PORTUGAL 

Indicadores económicos recentes revelam que, em Portugal, pela primeira vez desde a década de 90 do século XX, o nível de pobreza aumentou. Segundo dados recentes avançados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de pobreza é de 18,7% - afecta mais de dois milhões de pessoas. Segundo o INE, um quarto (24,7%) da população está em risco de pobreza. Olhando para estes segmentos da população, há conclusões inultrapassáveis que ressaltam destes números: os menores de 18 anos, as famílias com filhos a seu cargo e os desempregados são os mais afectados. São grupos sociais frágeis que estão mais expostos, e sobre os quais a iminência das ondas de choque sociais são mais violentas.

A pobreza foi uma das condições sociais que mais foi combatida, em todos os quadrantes políticos dos regimes democráticos, num espírito de solidariedade social mínima visando erradicar a exclusão económica num estado de prosperidade. O denominador comum do discurso e acções políticas, teve um rosto público bem identificado: ‘Estado Social’, que uns defendem como sistema de erradicação das exclusões (económica, social e cultural), e outros rejeitam argumentando com a sua insustentabilidade económica.

O ultraliberalismo e o pós-capitalismo selvagens tornaram de novo a pobreza um assunto presente, em sociedades e países desenvolvidos, duma forma que se torna a cada dia demasiado evidente. De forma abrupta, a pobreza, e por arrastamento a exclusão social, não é um índice que já só interessa aos países sub-desenvolvidos ou em desenvolvimento, mas que grassa na Europa, no nosso quotidiano e em sociedades que julgávamos ao abrigo da mesma.
Esta é, sem dúvida, uma das mais perigosas ameaças à estabilidade social e política com que a Europa e o mundo se defrontam, já que a pobreza tem funcionado, ao longo da história, como um dos principais responsáveis por conjunturas de totalitarismo e de maior injustiça social.
No final dos anos setenta assistimos em Portugal à falência das utopias pós-revolucionárias e à integração europeia que prometeu um país económica e socialmente próximo dos estabilizados padrões europeus. Seguiu-se a desregulação dos apoios da comunidade europeia e a progressão da corrupção num regime de impunidade jurídica e política.

A crise do sistema financeiro internacional, que teve o seu início em 2008, acarretou consequências brutais para as economias europeias mais débeis, arrastando países como a Grécia, Irlanda, Itália, Espanha e Portugal para um retrocesso da qualidade de vida sem igual, uma perda inimaginável há alguns anos atrás. Abruptamente deu-se o regresso a padrões sociais de há vinte ou trinta anos. Os sistemas económicos liberais aproveitam para efectuar uma “purga” nas concessões ou conquistas, conforme o ponto de vista, ao movimento operário. O que levou décadas a materializar perdeu-se num ápice, tendo a crise como escudo protector. Por isso mesmo, o pensamento cultural e artístico deve contribuir para uma reflexão e observação do estado da Pobreza, analisando a sua evolução histórica, de forma a permitir um entendimento esclarecido e crítico da mesma, que seja útil à sociedade e aos cidadãos.

Este projecto tem como principal objectivo contribuir para uma reflexão e visão histórica das formas de pobreza, desde o século XIX até à actualidade, nas suas mais variadas facetas. Julgamos por isso ser fulcral criar um panorama visual e documental da Pobreza na sociedade portuguesa, que compreenda as questões sociológicas, antropológicas, políticas, filosóficas e estéticas, articulando-as num projecto que seja uma reflexão crítica sobre estes problemas.
Esse panorama quer estar fundamentado nas grandes áreas de estudo e pensamento sobre a Pobreza, mas quer também que seja de leitura acessível e clara a todos os cidadãos, constituindo matéria de reflexão pública, assim como um espaço que abra perspectivas de acção e combate à Pobreza, numa proposta clara de pensamento como intervenção.

Emília Tavares e Paulo Mendes, 2014




SOBRE O PROJECTO

O TEMPO E O MODO, baseia-se na revista que foi criada em 1963 e foi editada até 1977.
Tratava-se de uma revista com um pensamento transversal do ponto de vista político – local de discussão e polémicas – formada por católicos progressistas, que foi sofrendo uma viragem política ao longo das décadas, numa relação orgânica com a realidade que havia mudado na sequência dos acontecimentos do 25 de Abril, e onde participaram activistas que viriam a ser futuros governantes, membros do Partido Socialista, católicos e radicais de esquerda.
Na lista de directores e colaboradores estão nomes tão diversos como: António Alçada Baptista, João Bénard da Costa, Pedro Tamen, Jorge de Sena, Eduardo Lourenço, Vasco Pulido Valente, Jorge Sampaio, Mário Soares, José-Augusto França, Mário Dionísio, Arnaldo Matos, Fernando Pernes, Luís Miguel Cintra ou João César Monteiro, entre muitos outros.

Este projecto reivindica um papel de reflexão e intervenção da cultura na realidade social e política do país. Um pensamento afirmativo, elaborado em parceria entre a palavra e a imagem, recuperando a memória iconográfica e escrita, para pensar um presente precário, que está a deixar marcas indeléveis em várias gerações. 

Bibli. Press release da exposição

QUASE CONVERSA "23 décembre 1888" > Albuquerque Mendes + Durval de Barros < Maria De Fátima Lambert


segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

"23 décembre 1888" de Albuquerque Mendes

“...a propósito da infinita tristeza de Van Gogh perante a realidade da vida” (Albuquerque Mendes)

“...23 décembre 1888...”


ou


“…non, je ne couperai pas mon oreille, je veux écouter l’oreiller ce soir…”

(“…não, eu não cortarei a minha orelha, quero escutar o travesseiro hoje à noite…”)



Scène 1 / Cena 1

- "Bonsoir mr. Van Gogh...mais vous ne dites rien? /Bom dia, Sr. Van Gogh, mas…não 
dizeis nada?”
- ....[aucune réponse] /nenhuma resposta
- "Alors, on répond pas?" /Então, não se responde nada?
- ....[aucune réponse] /nenhuma resposta
- "Voyons...que se passe-t'il" /Vejamos, o que se passa?
- ....[aucune réponse] /nenhuma resposta
(la personne entre dans la chambre et...) / a pessoa entra no quarto e…
- "Ah Bon Dieu, mais vous… êtes blessé!" / Ah, meu Deus, mas vós… estais ferido!


Interlude / Interlúdio

Ouve-se em “surround sound” o seguinte monólogo:


“Il ya a quelque temps, peut-être longtemps, j’ai visité une exposition où les sculptures écoutaient le mur. Elles étaient tranquilles et soumises à soi-même. Elles regardaient  n’importe où, l’essentiel était écouter rien. / Algum tempo atrás, talvez há muito tempo, visitei uma exposição onde as esculturas ouviam as paredes. Elas eram tranquilas e submissas a si-mesmas. Olhavam para lugar nenhum, o essencial era não ouvir nada.


L’oreille après l’oeil est le sens supérieur, disait Leonard de Vinci, au sujet des destinées supérieures de l’art. La musique, ainsi que la peinture et la sculpture, rejoignent les compréhensions plus exquises et célèbrent le divin de la création. Ainsi, pendant plusieurs de siècles on a reconnu l’œuvre sublime et/ ou belle dans l’histoire de l’art occidentaux, à travers de l’esthétique.” / A orelha, depois do olho, é sentido superior, por excelência, afirmava Leonardo da Vinci, acerca dos destinos supremos da arte. A música, assim como a pintura e a escultura atingem as compreensões mais requintadas e celebram o divino da 
criação. Assim, durante vários séculos, reconheceu-se a obra sublime e/ ou bela na história da arte ocidental, mediante a estética.



Scène 2 / Cena 2

Vincent – “Je suis jaloux. On me célèbre et vous parlez de Juan Muñoz? Croyez-vous que je connaisse pas l’art contemporain, que je ne me rends pas aux musées? Que j’ignore l’œuvre d’architecture du musée de Serralves?”

/ Vincent – “Fiquei ciumento. Celebram-me e falais de Juan Muñoz? Acreditais que eu desconheça a arte contemporânea, que não frequento museus? Que ignoro a obra de arquitetura do museu de Serralves?
Voix – “Ne craignez pas. Je me souvenais de l’histoire des sculptures d’oreille…par rapport et hommage à la coupure de la votre…”
/ Voz – “Não vos inquieteis. Lembrei-me da história das esculturas de orelha…por relação e homenagem ao corte da vossa…
Vincent – “Bien à vous, alors!” / Vincent- Bem haja!
Voix -“Ah, bon mr. Vincent! Savez-vous combien de fois Mr. Francis Bacon, le peintre, vous a évoqué, combien de peintures de votre corps lui a prêté, fournie?”
/ Voz – “Ah, estimado Sr.Vincent! Sabeis quantas as vezes que o Sr. Francis Bacon, pintor, vos evocou, quantas pinturas do vosso corpo lhes haveis cedido, fornecido?
Vincent – “À quoi donc?” /Vincent – Mas, o que pretendeis?
Voix – “Vous êtes une inspiration, vous avez eu le courage de sceller toute affaire et prendre la fuite. Votre corps est sinueux comme les lignes et les couleurs qui rouissent le lendemain.”
/Voz – Sois uma inspiração, haveis tido a coragem de fechar todo o assunto e tomar o caminho da fuga. O vosso corpo é sinuoso como as linhas e as cores que fluem para o amanhã.
Vincent – “Vous vous moquez de moi!” /Vincent – Brincais comigo!
Voix – “Il vous a dessiné, de bon matin, prenant le chemin du paysage déjà peint. Il a répété plusieurs fois, presque achevant à vous convaincre.”
/ Voz – Ele desenhou-vos, logo de manhãzinha, a caminho da paisagem já pintada. Repetiu diversas vezes, quase conseguindo convencer-vos.
(…) On n’écoute rien /Não se ouve nada
Voix – “Il vous a peint, pour ainsi rejoindre la voix de soi-même.”
/Voz – Ele pintou-vos para aceder à voz de si próprio.
Vincent – “Je me manque la raison! Est-ce l’oreille absente qui me fuit l’écoute?”
Vincent – Perco a razão. É pela orelha ausente que me foge a escuta?


Interlude / Interlúdio


La Voix, relatif amoureux de la Voix de Cocteau, sent la contrainte de toute cette incompréhension.

A voz, que é parente dileta da Voix de Jean Cocteau, começa a contrariar-se de tanta incompreensão que sente.




Scène 3 / Cena 3

Vincent – “À quoi de bon cette lampe dans la chambre? Pourquoi ont-ils absenté mon lit? Croyez-vous que je dormirai sous le soir étoilé?”[Ele olha em seu redor e faz o círculo. Depois avança no interior do quarto.]

Vincent – Para que serve esta lâmpada no quarto? Porque retiraram a minha cama? Pensam que irei dormir sob o céu estrelado? [Il regarde et fait le rond…comme le soleil. Après il avance vers l’intérieur de la chambre.]


Interlude / Interlúdio

(Voix off très pensive/ Voz off muito pensativa]


Je suis en train de lire quelques phrases que Vincent a écrit quelque temps avant; il me parle beaucoup des maisons où il a habité, ce qu’il attendait serai son avenir. Hélas. /Estou a ler algumas frases soltas que Vincent escreveu, algum tempo atrás. Fala-me muito das casas onde habitou, o que esperava fosse o seu futuro. Enfim.


La Voix regarde par la fenêtre qui est fermée./ A Voz olha pela janela que está fechada. On écoute son récit / Ouve-se a sua narrativa: 
“J’aimerais bien de causer avec toi plusieurs foi set pendant longtemps à propos de l’art, on devrait s’en occuper plus à ce sujet-là dans nos lettres.” (…) /”Gostaria de conversar demoradamente contigo sobre arte, deveríamos ocupar-nos mais vezes desse assunto nas nossas cartas.”




Scène 4 / Cena 4

Voix en lisant par coeur: “Maintenant je dispose d’une chambre comme je rêvais il y a longtemps, sans coins coupés et sans papier bleu ourlé de vert.” (18 septembre 1874) / Voz lê de cor: Disponho agora dum quarto como ambicionava há tanto tempo, sem

esconsos e papel azul orlado de verde.” (18 setembro 1874)

[Voix regarde Vincent qui s’allonge au long du sol parce qu’il y a pas de chaise. Quand même il léve sa tête pour parler. / Voz olha Vincent que se estendeu no chão pois não há nenhuma cadeira. Ainda assim, ele levanta a cabeça para falar.]


Vincent – “Cette même nuit, j’ai contemplé par la fenêtre de la chambre, les toits des 
maisons et les cimes de cimes que se décelaient, comme des tâches sombres, dans le ciel nocturne, où étincelait une seule étoile qui me semblait grande, belle et amicale.” (31 mai 1878) /Vincent – « Na mesma noite, contemplei da janela do quarto os telhados das casas e a copa dos ulmeiros que sobressaíam, como manchas escuras, no céu nocturno, em que
cintilava uma única estrela, que me parece grande, bela e amigável. » (31 maio 1878)

Voix – Et, aviez-vous une chambre avec une telle vue ?

Voz – E, tinha um quarto com uma tal vista, assim ?
Vincent – “La fenêtre de la chambre donne sur un jardin où le vois des pins, peupliers, etc…les arrières de vieilles maisons dont ces gouttières sont recouvertes par des lierres.” (21 janvier 1877)
/ Vincent - A janela do quarto dá para um jardim onde vejo pinheiros, choupos, etc… e as traseiras de casas velhas cujas goteiras estão cobertas de hera.” (21 janeiro 1877)
Voix – Maintenant il y pas de vue sur l’extérieur. Je réussi pas à ouvrir la fenêtre.
/Voz – Agora não há qualquer vista para fora. Não consigo abrir a janela.


Interlude / Interlúdio


Vincent se souvient d’une gravure, par Rembrandt, où on voyait une lumière toujours 
allumée. Il en parle de ça, dans une de ces lettres à Théo. La légende de la gravure disait: “In medio noctis vim suam lux exterit.” (30 octobre 1877) /Vincent lembra-se de uma gravura de Rembrandt, onde se podia ver uma luz sempre
acesa. A legenda da gravura dizia: “a luz brilha melhor no meio da noite.” (30 outubro 1877)




Scène 5 / Cena 5

Vincent – “Cependant, je me souviens d’avoir écouté le tango un soir dans le musée, Il y 
avait tant de monde. J’étais seul, seulement un spectateur dans la performance de quelqu’un. Les danseurs s’aimaient et j’ai compris qu’il y avait une célébration  quoi que ce soit ."
Vincent – “Todavia, lembro-me, de ter ouvido música de tango, numa noite no museu. Havia tanta gente. Eu estava sozinho, apenas era um espectador na performance de outra pessoa. Os dançarinos amavam-se e compreendi que havia uma qualquer celebração que fosse.




Fin / Fim
Vincent – “Je suis seul, assis en face de l’immense grise de la mer murmurante...je suis seul…seul comme je l’ai toujours été partout, comme je le serai toujours à travers le grand Univers charmeur et décevant…»1*
Vincent – “Estou sozinho, sentado em frente do cinzento imenso do mar murmurante…estou sozinho…sozinho como sempre estive em todo lado, como estarei sempre através do grande Universo sedutor e desilusório…”

[Vincent a eu une nouvelle Vision, pas celle de Hildegard von Bingen ou de son ami Paul Gauguin. Plutôt l’extase de Sainte Thérèse, croit t’-il. /Vincent teve uma nova visão, não a de Hildegarda von Bingen, nem a do seu amigo Paul 
Gauguin. Antes o êxtase de Santa Teresa, crê ele que sim.]
____________________

1*  Isabelle Eberhardt, Lettres et Journaliers, Paris, Actes du Sud, 1987, p.125

La Voix écoute l’oreille coupée de Vincent…qui l’appelle doucement.
A Voz escuta a orelha cortada de Vincent…que a chama docemente.

NB: instruções de leitura:
1. Feche os olhos depois de ler, ou à medida que leia, e visualize.
2. Se pretender aceder aos conteúdos em francês > traduza no google translator...caso
não aprecie a minha tradução livre.

Maria de Fátima Lambert
dezembro 2014