sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Palácio Vila Flor e Centro Internacional das Artes José de Guimarães

novas exposições a partir de 17 de outubro


PAULO MENDES ,  S DE SAUDADE

17 de outubro é dia de mais uma inauguração conjunta em Guimarães. O programa terá início às 16h30, no Palácio Vila Flor, onde Paulo Mendes apresentará uma antologia das obras da série “S de Saudade” iniciada em 2007. O trabalho de Paulo Mendes especula sobre o desassossego de uma presença post-mortem. No propósito de questionamento crítico sobre os efeitos traumáticos de um regime, o artista junta diferentes elementos visuais, numa disposição visionária e parcelar, reativando o que historicamente sucumbiu à vulgaridade e indiferença.
 
O “Senhor S”, protagonista da exposição, surge como reabilitação iconoclasta do Homem sem Qualidades, de Robert Musil. A falta de legitimidade humanista que traça o percurso histórico do ditador faz soçobrar a sua imagem no abismo enigmático; sombra esfíngica e patológica, reflexo especular, aparência sintomática, interpela o observador que, pelo reconhecimento do outro se reconhece neste diálogo interior. A silhueta esquiva, difusa e sinuosa do “Senhor S” erra no amontoado de artefactos, preservados no sótão das memórias recalcadas; silenciosa, quase inerte, contempla, de forma panótica, os medos, angústias, incertezas, debilidades e inseguranças, desdenhando o perigo, ambivalência ou relatividade de opiniões, argumentos e ideologias.
 
A exposição sugere um espaço fechado, durante décadas selado, no qual o “Senhor S” emerge como repositório de atos cruéis. Misturados com as peças, os objetos de uso comum, abandonados, esquecidos e dispostos ao acaso, evocam a paisagem cultural da personagem fantasmática; constituindo um peculiar sistema de sinais, que põe a nu o jogo semântico entre objetos e elementos visuais, aos quais um código intuitivo extralinguístico atribui uma espécie de “iluminação” historicista e ficcional. Assim, a cada significado correspondem múltiplas hipóteses de iluminação, pelas evocações, alusões, simulações imaginosas na cor ou fragrância de um pensamento.

INQUÉRITOS, Pastores com carroça, capucha e cão lobeiro, Cinfães, Gralheira, 1955 ©Ordem dos Arquitectos


Às 19h00, é a vez do Centro Internacional das Artes José de Guimarães inaugurar a segunda grande exposição coletiva do ano, “Os Inquéritos [à Fotografia e ao Território]: Paisagem e Povoamento”, projeto que aborda e tematiza o papel da fotografia no mapeamento, documentação e construção pela imagem do território português.
 
Tendo como ponto de partida a expedição à Serra da Estrela, realizada sob a égide da Sociedade de Geografia de Lisboa, em 1881, que contou com a colaboração de Martins Sarmento, e o trabalho pioneiro e menos conhecido de Carlos Relvas sobre uma considerável porção do território português, a exposição reúne um conjunto de inquéritos ao território em que a fotografia (e em alguns casos o filme) assume particular relevância – desde o levantamento contínuo de Orlando Ribeiro, iniciado ainda na década de 1930, passando pelo “Inquérito à Arquitectura Regional”, realizado na primeira metade de 1950 e pelas recolhas do grupo de etnólogos formados e liderados por Jorge Dias no âmbito do Centro de Estudos de Etnologia, sistematizadas a partir da década de 1950 até ao princípio de 1980, revisitando as peças em que Alberto Carneiro recorre sistematicamente à fotografia, entre 1973 e o princípio dos anos 1980, até aos levantamentos mais recentes, de Duarte Belo (Horizonte Portugal, O Sabor da Terra, Portugal, Luz e Sombra, etc.), Luís Pavão (Serras do Caldeirão e de Monchique) ou Álvaro Domingues (A rua da estrada, A vida no campo), André Príncipe (Campo de flamingos sem flamingos) ou Daniel Blaufuks (Um pouco mais pequeno que o Indiana), Nuno Cera e Diogo Seixas Lopes (Cimêncio), Paulo Catrica, Valter Vinagre, Jorge Graça, Álvaro Teixeira, Pedro Tropa, Carlos Lobo e Eduardo Brito, ou ainda, Duas Linhas e Sete Círculos. 
 
Pondo lado a lado um amplo conjunto de imagens, documentos e publicações, alguns deles não antes vistos em contexto museológico, esta exposição oferece-nos uma miríade de retratos do território português, tão diversos quanto fascinantes, que nos induzem a uma reflexão sobre nós mesmos e o lugar em que nos foi dado viver. 
 
Para além da exposição “Os Inquéritos [à Fotografia e ao Território]: Paisagem e Povoamento”, que ocupará a totalidade das salas reservadas às exposições temporárias, recordamos que poderá também (re)visitar a coleção permanente e outras obras patente no piso 1 do CIAJG. Esta exposição sofreu uma remontagem no mês de julho com a apresentação da obra de Pedro Valdez Cardoso, “Ártico: narrativa e fantasmática”, que reúne uma instalação e um alargado conjunto de desenhos que estabelecem um diálogo com a prática arqueológica. Estas novas propostas juntaram-se aos ex-libris da coleção que continuam em exposição, nomeadamente o tão apreciado e visitado núcleo As Magias, que reúne um alargado conjunto de máscaras africanas.

Bibli. Press release da exposição



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