quarta-feira, 19 de abril de 2017

“PAISAGEM” - patente na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA) até ao dia 6 de Maio, todos os dias úteis, das 12h00 às 19h00 e aos sábados das 14h00 às 20h00.

A exposição colectiva de desenho, fotografia, instalação, pintura e vídeo “PAISAGEM” , promovida pela SNBA e a Associação Castelo d’If, com organização de Hilda Frias, Patrícia Nazaré Barbosa e Pedro Almeida é inaugurada no próximo dia 20 de Abril, quinta-feira, às 18h30, na Sociedade Nacional de Belas Artes (SNBA), na Rua Barata Salgueiro, 36, 1250-044 LISBOA.

A PAISAGEM
(a temática)

Recorremos a excertos da palestra ´´A Paisagem``. Introdução a uma gramática do ´´espaço`` do Professor Doutor Álvaro Campelo (proferida na aula inaugural do Curso de Doutoramento em Estudos da Paisagem Departamento de Geografia da Universidade do Minho, 2012) como ancoradouros para o entendimento de um conceito tão abrangente e polissémico como o é o de 'Paisagem'. A sua dissertação aborda distintas camadas conceptuais sublinhando como aquilo que é natural e o que é cultural estão indissociavelmente ligados pelo sujeito humano, central à experiência, vivência e representação da Paisagem.
“Quando olhamos para a etimologia da palavra “paisagem” temos duas versões, a das línguas latinas (paysage, paisaje, paisagem...) e a das germânicas (landschaft, landscape...). O radical “pag” de onde deriva “pagus”, leva ao sentido de limite fixado na terra, ligado à terra, o que habita a terra, de onde sairá depois o de uma organização rural, uma região ou país (Houaiss 2002). Por sua vez, a raiz germânica “land”, regista o sentido do espaço aberto, que depois opõe o campo (rural) à cidade e que, também, acabará por designar um território administrativo ou região.”
“Poder-se ia dizer que o conceito de paisagem natural não existe (Sauer 1963), pois desde que a paisagem é percebida e interpretada pelo homem, na relação que estabelece com ela, passa a ser uma paisagem cultural. O próprio conceito de paisagem é, no ocidente e desde o renascimento, cultural.”
“No século XVI, o termo paisagem aparece como referência a um “cenário” a olhar e a fixar na tela do pintor. (…) É neste momento, século XVI, que ao conceito de “cenário” ou “área”, no sentido de “enquadramento”, aposto à paisagem, surge associado o conceito de “estética” na “beleza da paisagem” (…) A paisagem vive da capacidade de ser abarcável pelo olhar, composta de frames enquadrados e demarcados por uma leitura que sintetiza a complexidade e variedade que integra esse enquadramento. “
“A experiência estética da paisagem está na origem das sensações e sentimentos do fruidor da paisagem. Esta experiência estética sobre a configuração de uma determinada superfície do globo (Humbolt 1884) vive do olhar, como já anteriormente referimos, e do viver essa configuração. Apesar de determinadas configurações reproduzirem ideias de beleza consensualmente estabelecidos ou surpreenderem pela novidade e excecionalidade, a maior parte delas são configurações que estão estabelecidas - fixadas – na organização cognitiva dos seus praticantes, onde a fruição passa pela aquisição de uma familiaridade na forma e no uso. Ou seja, aquilo que de facto ela é : uma configuração cultural.”
“Mais ainda, a paisagem cultural despoleta a memória da sua prática. As vivências continuadas de um determinado espaço são percebidas e interpretadas pelos seus praticantes ao longo do tempo.”
“A paisagem como “texto” inscreve-se num território, por sua vez veiculado a uma região, mas interpretado num lugar concreto, que por o ser, se transforma em espaço de sentido.”
“A paisagem afirma-se como um processo de informação, que implica códigos, percepções, de forma a fornecer uma mensagem, tanto para os olhos como para a mente, num espaço cultural particular, em que os elementos físicos, biológicos, culturais e estéticos que a compõem, assumem particular significado no tempo em que a paisagem é experiencial e comunicativa, transformando-se em con(texto).”



A EXPOSIÇÃO

​A escolha do conceito de Paisagem para o título da exposição deriva, portanto, de pontos de contacto que a Associação reconhece ter, com esta perspectiva da paisagem enquanto paisagem cultural. O mapeamento e a organização logística efetuados em torno das 'AAA', integram a geografia e toponímia da cidade de Lisboa com a referenciação de uma 'cidade cultural', implícita na actividade criativa dos artistas e dos espaços de atelier.     O ritmo anual e consecutivo deste evento permite registar e observar os movimentos desse tecido humano sobre o território, cuja memórias e registos vão constituindo um corpo de conhecimento e de entendimento das respectivas complexidades morfológicas e culturais. Esse 'observatório', sob a forma de um roteiro temporário, convida à vivência e à interpretação que, na fruição subjectiva de cada um, contextualiza a cidade e cada um dos espaços referenciados.     Durante os três dias de abertura, o visitante flâneur que escolhe os ateliers, define um trajeto que é percorrido através das ruas, das avenidas, das praças e das travessas dos bairros da cidade. Ao mesmo tempo que desenha um percurso, estende o 'olhar' a diferentes territórios e escalas - da cidade à rua, do espaço intimista do atelier à entourage local do edifício, do diálogo com o artista à contemplação da obra - construindo as suas próprias paisagens.     O espaço urbanístico onde o atelier se insere (o fora) complementa-se com a visita (o dentro). A contemplação circula entre dentro e fora, à medida que o visitante experiencia o espaço vivo do ateliê, acedendo a outros estratos da paisagem: aqueles através dos quais o artista se deixa olhar - desde a organização de espaço, utensílios e materiais, ao modo como o habita, à narrativa pessoal do seu discurso e da sua biografia - e, claro, à arte, que é o seu olhar emergente em cada obra, correspondendo-se com quem a frui.

Bibli. Press release da exposição